Governo, inflação e senhoriagem

A impressão desenfreada de moeda é uma prática econômica com graves consequências para a economia de um país. Esta abordagem, também conhecida como “seigniorage” ou “senhoriagem”, ocorre quando um governo emite grandes quantidades de moeda para financiar seus gastos, em vez de utilizar recursos provenientes de impostos ou da emissão de títulos da dívida pública.

Embora possa parecer uma solução fácil e imediata para questões fiscais, a impressão excessiva de moeda frequentemente resulta em inflação ou, em casos mais extremos, hiperinflação, desvalorizando o poder de compra da moeda e causando uma série de problemas econômicos e sociais.

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A desvalorização do poder de compra

A inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços dos bens e serviços em uma economia. Quando o governo imprime grandes quantidades de moeda, a oferta monetária aumenta rapidamente, mas a quantidade de bens e serviços disponíveis na economia não acompanha esse aumento.

Isso resulta em um excesso de dinheiro circulando na economia, mas sem um aumento correspondente na produção. Como consequência, os preços sobem, e o valor real do dinheiro cai. Em outras palavras, a moeda perde seu poder de compra.

Por exemplo, se a quantidade de dinheiro em circulação dobra, mas a quantidade de bens e serviços disponíveis permanece a mesma, os preços tendem a dobrar, na ausência de outros fatores econômicos.

Isso significa que o mesmo valor monetário compra menos do que antes. Esse fenômeno é especialmente problemático para pessoas com rendimentos fixos, como aposentados, e para aqueles que possuem economias em moeda nacional, já que seu poder de compra é erodido pela inflação.

(imagem ilustrativa)

A hiperinflação

Em casos extremos, a impressão desenfreada de moeda pode levar à hiperinflação. A hiperinflação é uma inflação extremamente alta e fora de controle, geralmente definida como uma taxa de inflação superior a 50% ao mês.

Em situações de hiperinflação, a moeda perde rapidamente seu valor, os preços sobem a cada hora, e o sistema econômico pode colapsar.

Exemplos notáveis de hiperinflação incluem a Alemanha na década de 1920, o Zimbábue na década de 2000 e, mais recentemente, a Venezuela.

Durante a hiperinflação, as pessoas perdem a confiança na moeda nacional e tentam se livrar dela o mais rápido possível, comprando bens tangíveis ou trocando a moeda por moedas estrangeiras mais estáveis vide o bolívar soberano (moeda da Venezuela). Isso exacerba ainda mais a crise, aumentando a velocidade da circulação do dinheiro e acelerando a subida dos preços.

O Interesse governamental

Governos podem recorrer à impressão desenfreada de moeda por várias razões. Uma das principais motivações é financiar déficits orçamentários sem aumentar impostos ou emitir mais dívida. Esta prática pode ser particularmente tentadora para regimes políticos que enfrentam dificuldades em arrecadar impostos ou que estão sob pressão para aumentar gastos públicos em áreas como defesa, infraestrutura ou programas sociais.

Além disso, a impressão de moeda pode ser usada como uma forma de “imposto inflacionário”.

Como a inflação reduz o valor real da dívida governamental, pode parecer uma maneira atrativa de diminuir a dívida pública. Em um cenário inflacionário, o governo paga suas dívidas com dinheiro que vale menos do que quando a dívida foi contraída.

No curto prazo, isso pode aliviar as pressões fiscais, mas a longo prazo, os custos econômicos e sociais são significativos.

Por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial e após a Segunda Guerra Mundial, vários países enfrentaram grandes déficits e recorreram à impressão de moeda para financiar seus esforços de guerra e reconstrução. No entanto, isso frequentemente resultou em inflação elevada, desvalorização da moeda e crises econômicas prolongadas.

As consequências sociais e econômicas

A inflação alta e a hiperinflação têm consequências devastadoras para a economia e a sociedade. Além da desvalorização do poder de compra, a inflação cria incerteza econômica, que pode desincentivar o investimento e a poupança.

Um exemplo atual desse desastre é a Venezuela, que passa uma crise econômica infindável. Além da Venezuela, a Argentina entrou em colapso devido aos gastos excessivos e a falta de compromisso com as dívidas nacionais, levando sua população cada vez mais a perda do poder de compra e consequentemente a pobreza.

Com o aumento da inflação as empresas podem ter dificuldade em planejar o futuro, pois os custos dos insumos e os preços de venda tornam-se imprevisíveis. Isso pode levar a uma redução na produção e no emprego, exacerbando ainda mais os problemas econômicos.

Socialmente, a inflação pode aumentar a desigualdade. Aqueles com ativos tangíveis, como imóveis ou investimentos em moedas estrangeiras, podem se proteger melhor contra a inflação do que aqueles cujas economias estão em moeda local.

Além disso, trabalhadores com salários fixos ou rendimentos não indexados à inflação podem ver seu padrão de vida diminuir drasticamente.

Medidas para combater a inflação

Para combater a inflação causada pela impressão desenfreada de moeda, os governos e bancos centrais geralmente precisam adotar políticas monetárias e fiscais restritivas. Isso pode incluir aumentar as taxas de juros para reduzir a quantidade de dinheiro em circulação, cortar gastos públicos e aumentar os impostos para reduzir o déficit orçamentário.

Os bancos centrais, em particular, desempenham um papel crucial na manutenção da estabilidade dos preços.

No Brasil, há uma política social e eleitoral que fazem com que não haja tal responsabilidade. Portanto, há um interesse maior no efeito de curto prazo da imagem que será gerada, do que realmente seja melhor para a austeridade nacional ao longo prazo.

Políticas monetárias como a fixação de metas de inflação, o controle da oferta monetária e a utilização de ferramentas como operações de mercado aberto são essenciais para controlar a inflação.

A independência dos bancos centrais do controle político é frequentemente citada como uma condição necessária para a eficácia dessas políticas, pois permite que eles tomem medidas impopulares, mas necessárias, para manter a estabilidade econômica.

A impressão desenfreada de moeda pode parecer uma solução rápida para problemas fiscais imediatos, mas suas consequências a longo prazo são frequentemente desastrosas.

Assim como fala Ludwig Von Mises em seu livro  na quarta lição sobre o aumento da base monetária (https://www.infomoney.com.br/colunistas/ifl-instituto-de-formacao-de-lideres/as-seis-licoes-de-ludwig-von-mises-que-marcam-o-pensamento-liberal/). A inflação resultante desvaloriza o poder de compra da moeda, reduz a confiança na economia e pode levar a crises econômicas severas.

Embora possa parecer uma maneira fácil de reduzir a dívida pública, as consequências econômicas e sociais da inflação alta ou da hiperinflação podem ser muito mais prejudiciais do que os benefícios temporários obtidos.

A esperança de que os governos busquem maneiras mais sustentáveis e responsáveis de gerenciar seus orçamentos e dívidas. Isso pode incluir a reforma fiscal para aumentar a arrecadação de impostos de maneira equitativa, a priorização de gastos públicos eficientes e a manutenção de políticas monetárias rigorosas que preservem a estabilidade econômica e a confiança na moeda.

 

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